SUICÍDIO?
A Wikipedia define como “Suicídio é o ato intencional de matar a si mesmo. Os fatores de risco incluem perturbações mentais e/ou psicológicas com depressão, perturbação bipolar, esquizofrenia ou abuso de drogas, incluindo alcoolismo e abuso de psicotrópicos. Outros suicídios resultam de atos impulsivos devido ao stress e/ou dificuldades econômicas, problemas de relacionamento ou bullying. ”
“Na maioria das vezes, a gente não está muito atento ao que está acontecendo ao nosso redor. Mas todo mundo tem a capacidade de observar”, diz Adriana Rizzo, voluntária do CVV (Centro de Valorização da Vida), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio.
No caso, observar sinais de pessoas que possam estar pensando em tirar a própria vida. De assunto mantido entre quatro paredes a tema de série na internet, o suicídio de jovens cresce de modo lento, mas constante no Brasil, em especial.
A taxa de suicídios a cada 100 mil habitantes aumentou 7% no Brasil, ao contrário do índice mundial, que caiu 9,8%, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018. Neste mês, em que participamos da campanha Setembro Amarelo, os dados apontam o quanto ainda precisamos dar atenção ao tema.
O suicídio foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, após os acidentes de carro. Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, o suicídio foi a segunda principal causa de óbito entre meninas (após condições maternas) e a terceira principal causa em meninos (após lesões na estrada e violência interpessoal). Casos de suicídio muitas vezes são deliberadamente mascarados nas estatísticas oficiais. Suicídios de crianças tidos como morte acidental ou acidentes de automóvel, causados por jovens que dirigem alcoolizados e em alta velocidade: para os especialistas, esses são, sim, atos suicidas.
Embora os números mundiais estejam em queda, os índices ainda são alarmantes: cerca de 800 mil pessoas acabam com suas vidas todos os anos no mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. Ainda assim, quase não se fala sobre o tema.
A região das Américas foi a única a apresentar crescimento da taxa global de suicídios, com incremento de 6% na comparação com 2010. Cerca de 80% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil. Em 2016, foram registradas no país 30 mil tentativas de mulheres e 15 mil de homens. Para os especialistas, os altos números refletem também tentativas de comunicação. Apesar de homens tentarem menos, eles são as maiores vítimas letais, por usarem métodos mais agressivos.
Dados divulgados recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil é o país com maior número de pessoas com transtorno de ansiedade e o quinto em número de pessoas com depressão, e estamos entre os dez países com as maiores taxas de suicídio do mundo, e segundo um estudo recente realizado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), 17% dos brasileiros já pensaram em suicídio.
No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10/09) e neste Setembro Amarelo – campanha brasileira de prevenção ao suicídio -, listamos os sinais que podem indicar se alguém está cogitando suicídio. A campanha Setembro Amarelo surgiu com o intuito de mudar esse cenário, isto é, de conscientizar a população acerca da importância de falar sobre o tema, que nesse ano é voltado a reduzir o estigma de quem convive de perto com isso.
Mas como o suicídio pode ser abordado dentro da escola?
Como os educadores e a comunidade escolar podem atuar para prevenir e lidar com uma questão tão séria?
Na idade escolar, a percepção do suicídio como forma de acabar com um sofrimento pode estar atrelada a outros problemas enfrentados pelo jovem, seja dentro ou fora da escola.
Questões como bullying e cyberbullying, depressão, relações familiares conturbadas, entre outras, podem estar na raiz do problema que precisa ser acolhido e enfrentado.
É preciso lembrar que o trabalho de prevenção ao suicídio, especialmente em escolas e no ambiente familiar, é contínuo. As questões que podem induzir um jovem a um ponto extremo não surgem de um dia para o outro, da mesma forma que não irão desaparecer.
Desta forma, é importante que a escola seja um ambiente de formação voltado também à Educação Emocional. Assim, o jovem pode aprender a lidar com seus problemas e os redimensionar, encarando as adversidades da vida e ser capaz de se abrir emocionalmente sem medo de ser julgado.
É importante que a abordagem do tema suicídio nas escolas incentive a ausência de julgamentos ou de exposição de preconceitos e frases feitas que mais prejudicam quem passa por essa situação. Os educadores poderão criar situações que estimulem os estudantes a combater processos de discriminação e estigma relacionados ao assunto, não dando espaço ao bullying e agressões, mesmo que sutis. Nesse sentido, cabe abrir e priorizar o diálogo, mostrando que a solução não está em ignorar os momentos difíceis, mas de alguma forma enfrenta-los.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS MAIS COMUNS?
Os sintomas nem sempre são visíveis, na maioria das vezes são silenciosos, mas existem sinais para os quais podemos prestar atenção e até prevenir que a situação se desenvolva ou se efetive em suicídio.
Segundo Rizzo, “são um conjunto de coisas”, e é preciso observar os sintomas associados a outros sinais. Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, lista alguns:
SINTOMAS VERBAIS
Quando a pessoa diz “quero me matar, quero morrer, vou cometer suicídio”. “Muita gente não dá atenção para isso porque acha que a pessoa não está falando a verdade, que quem fala não faz”, diz Rizzo;
Quando diz “estou muito cansada, não quero continuar”. “É algo que, isoladamente, não recebe muita atenção das pessoas. Mas junto com outros sintomas, tem de ser visto com um olhar mais diferenciado”, explica a psicóloga.
SINAIS NO COMPORTAMENTO
Isolamento: se a pessoa deixa de ir à escola ou falta ao trabalho com regularidade, por exemplo;
Desinteresse: de repente, a pessoa deixa de fazer as atividades de que gosta;
Alimentação: a pessoa come mais ou come menos que o usual;
Mudança no sono: se tem insônia ou dorme demais;
Agressividade: no caso de jovens, às vezes a depressão se confunde com agressividade.
“Mas tudo depende de muita coisa. Às vezes a pessoa está com risco baixo de suicídio e tem um desencadeante forte, como ser mandada embora do emprego, perder alguém importante. Pode ser a gota d’água. Esses períodos de estresse demandam maior atenção”, afirma.
No geral, de acordo com Scavacini, “sintomas de depressão associados a sinais verbais podem mostrar que pessoa está em risco”.
O CVV oferece apoio emocional e prevenção do suicídio durante 24 horas por meio de chats online, ligações ou mesmo e-mail. Não é necessário se identificar e a pessoa pode ligar quantas vezes quiser. A proposta de Vida do CVV é acolher, aceitar, não julgar, compreender, respeitar!
Em seu trabalho, diz Rizzo, voluntários se dispõem a atendimentos durante 4 horas por semana, ficando à disposição para atendimentos virtuais ou por telefone.
“As pessoas falam de assuntos diversos, de algo que aconteceu em seu dia, o que lhe deixou bem, o que lhe deixou mal, o pensamento de morrer”, conta. “A maioria fala que se sente sozinha. Damos espaço e oportunidade para falarem.”
“Uma grande coisa que a gente pode fazer é estar mais atento às pessoas ao nosso redor”, diz Rizzo. “Ter esse olhar, essa percepção de que alguém não está bem, se aproximar, perguntar como ela está e realmente ouvir.”
Apenas dois métodos são comprovadamente eficazes na prevenção do suicídio, é o que afirma o Dr. Rafael Moreno, Coordenador do Comitê de Prevenção do Suicídio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul:
a) falar sobre suicídio, informando a população sobre sinais, fatores de risco e tratamento;
b) impedir o acesso fácil a métodos de suicídio (veneno, medicamentos, armas de fogo, corda, etc) e criar barreiras em pontes ou prédios que se tornaram locais de referência para a prática.
NAS REDES SOCIAIS
É preciso ficarmos muito atentos aos sinais nas redes sociais.
Para Scavacini, é preciso monitorar as “mudanças na forma de uso” das redes. “Quando a pessoa começar a usar mais as redes, ficando mais isolada”, por exemplo, ou quando ela começa a “seguir páginas com conteúdo que tenham mais relação com depressão ou questões ligadas à morte” – esses são possíveis sintomas de depressão ou tendência de suicídio.
“Muita gente vai fazer essa comunicação nas redes. O difícil é conseguir entender até que ponto é um pedido de ajuda ou uma comunicação de que vai fazer alguma coisa naquele momento.”
As pessoas se expressam de maneira diferente em redes diferentes – com menos sinceridade em posts do Facebook, por exemplo, e mais abertura em comentários de vídeos no YouTube, que não aparecem para as redes de contato -, e plataformas também têm tomado medidas para monitorar o conteúdo.
Usuários que identificarem conteúdo impróprio, como vídeos ou mensagens incitando o suicídio ou mensagens de pessoas que pareçam inclinadas a tentar isso, também podem agir, usando canais de denúncias das plataformas (no Facebook, clicando nos três pontinhos no canto superior direito da publicação; no YouTube, nos três pontinhos localizados no canto inferior direito de cada vídeo; no Twitter, na lateral direita superior do tuíte; no Instagram, nos três pontinhos do lado superior direito).
O Facebook, por exemplo, envia uma mensagem dizendo “Um de seus amigos está preocupado com você”, oferecendo opções de ajuda ao usuário.
IDENTIFIQUEI SINAIS. E AGORA, O QUE EU FAÇO?
COLOQUE-SE À DISPOSIÇÃO
Se você desconfiar que alguém próximo está pensando em suicídio, não fique parado, tome uma atitude.
A primeira atitude pode ser começar uma conversa com a pessoa. Aborde com uma “postura acolhedora”, “segure a sua vontade de proferir algum julgamento” e comece a conversa dizendo, por exemplo: “Como você está se sentindo hoje?” ou então “Estou preocupado com você, percebi que você está assim [diga como]. Está acontecendo alguma coisa? Estou ao dispor se isso puder te ajudar”
ACOLHA, ESCUTE
Uma das necessidades básicas dos seres humanos e que jamais deve ser esquecida é a necessidade de ser visto e tratado como pessoa, de ser escutado e compreendido. Estar atento aos sentimentos da pessoa que escutamos, é oferecer a ela uma oportunidade de olhar para si mesma, com alguém que no momento de dor está ao seu lado, para não seguir sozinha pelos caminhos que escolheu e agora estão difíceis de trilhar.
Escute. Depois que perguntar como ela está, o importante é deixar a pessoa falar. “Muitas vezes, a pessoa colocar em palavras o que ela está sentindo pode ser relevante. Ela pode sentir que é importante para alguém, e isso pode lhe dar um bom apoio”, afirma a psicóloga.
Escolha um lugar calmo e converse com tempo, dando total atenção à pessoa e ao que ela tem para falar. Ela pode demorar um pouco para se abrir, então seja paciente. Esse link traz mais dicas de como conduzir a conversa.
Na conversa, é importante perguntar se a pessoa está pensando em fazer alguma coisa mais grave com ela mesma, algum ato de auto agressão.
“Se ela disser que sim, você deve tentar conectá-la a um serviço de saúde mental. Pode se oferecer para ir junto, garantindo que ela receba algum tipo de ajuda e checando depois se ela realmente chegou a ir e se conseguiu a ajuda de que precisava. A pessoa com sofrimento emocional intenso precisa ser guiada”, afirma Scavacini.
Ela lembra que há vários caminhos: faculdades, clínicas, escolas, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
Se a pessoa disser que não está pensando em fazer algo, você deve se colocar à disposição para conversar com ela. Dizer: “Estou preocupado, estou aqui para o que você precisar”, continuar oferecendo ajuda e, de tempos em tempos, voltar a ter essa conversa. “Já se for um jovem e você for pai ou mãe, você vai tentar conversar mais vezes, marcar uma consulta para o jovem”, diz Scavacini.
Se o adulto disser que está pensando em se matar e disser concretamente que tem uma arma em casa ou que já pensou a maneira como vai fazer isso, é recomendável procurar a família e procurar a orientação de profissionais da saúde mental.
Cada caso é diferente de outro e caso os sinais sejam identificados, o importante é agir.
ONDE BUSCAR AJUDA?
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde (saúde da família, postos e centros de saúde)
- UPA 24h
- Samu 192
- Hospitais
- Pronto-socorro
CVV – Centro de Valorização da Vida (apoio emocional e prevenção do suicídio)
188 (ligação gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular)
cvv.org.br (Chat, Skype ou e-mail)